quinta-feira, 28 de abril de 2011

8- Plínio uma vez escreveu...

“A única certeza é que não existe certeza”.
Encontrei a Yasmin no pátio com a Sally, Mariana, Ricardo e Talita.
“Deri!” Sally gritou ao me ver.
“Estamos esperando o Jack, o Vinícius e o Caio.” Yasmin.
A Sally e a minha irmã estavam inquietas e piorou quando os meninos chegaram.
Jack mal nos cumprimentou ao chegar, “Vem, quero falar com você”, pegou a Talita pelo pulso e foi embora com ela.
“Eita!” Vinícius.
Observei a expressão da Sally enquanto via o Jack e a Talita indo embora. Minha prima era péssima em esconder seus sentimentos e a angústia em seu olhar estava a deixando a ponto de chorar. Desviou o olhar quando me viu a encarando.
“É... Ricardo?”
“Que foi?”
“Vamos logo pra casa. Temos que arrumar as nossas coisas”
“Ué, bora então”
“É, também já vou” Mariana.
Todos se despediram e partiram para seus caminhos. Sally arrastava o Ricardo pela rua, quase correndo na nossa frente.
“Coitado do Rick...” Yasmin.
“Onde será que o Jack está com a Tali?”
“Ele parecia irritado. Sally ficou estranha depois disso. Ela estava toda empolgada e reclamando da escola.”
“O que será que está acontecendo...”
“Eu ainda acho que o Jack gosta mesmo é da Sally. Sally também gosta dele. Não entendo porquê eles complicam tanto as coisas. Se gostam um do outro, por que não ficam juntos? Sally diz que não vê o Jack assim... Não sei o motivo do Jack, mas sabendo que a Sally pensa assim não é muito encorajador, não é?! Se ela não quer namorar com o Jack nem nada, vai ter que aprender a vê-lo com outras. Ele não é propriedade dela.”
“Que eles se gostam não tem com duvidar... Desde sempre juntos. E eles se dão tão bem...”
“Ela perguntou ao Jack hoje, antes de ir à escola, se ele pensava em namorar a Talita. Ele perguntou o que ela achava e se ela queria isso. Sabe o que a doida respondeu? Que não poderia ter alguém melhor para o Jack nem para a Talita. Ele disse que pensaria nisso. Não sei o que ele resolveu, mas sei que Sally não deveria...”
“Minha irmã sabe de tudo isso melhor do que ninguém e que mesmo assim resolveu fazer as coisas como tem feito, mas espero muito que ela não se machuque ainda mais... Talita é inconsequente demais, isso me preocupa.”
“Ei... Se as coisas não terminarem bem, estaremos aqui pra eles. Então, não fique tão tenso assim, ok?” Yasmin me disse enquanto chegávamos em casa.
Eu só esperava que as coisas não chegassem àquele ponto.
Passamos aquele dia fazendo nossas malas e empacotando algumas coisas. No dia seguinte fomos arrumar nossos quartos no Colégio Elite.
Minha namorada ficou muito contente por ter a minha irmã como companheira de quarto. Sally e Mariana estavam no mesmo andar do mesmo prédio que a Yasmin, no quarto F3S. Eu ainda me perguntava quem estaria comigo.
Estava arrumando minhas coisas no dormitório quando ele chegou – dividiríamos o mesmo quarto por todo o semestre – Scott Meyer. Colocou uma mala sobre a cama, sem notar a minha presença.
Congelei. Senti meu coração prestes a sair pela boca. Em algum lugar dentro de mim eu sabia que não tinha superado nada daquilo, mas realmente havia me esforçado para acreditar que nada demais ocorreu... Mantive aquelas lembranças enterradas na minha mente, longe do alcance de qualquer um. Ninguém sabia, ninguém poderia.
Estudar com ele, não tinha sido um problema até então. Até mesmo ajudar a minha prima com a história do Scott e Mariana não me deixou em nervos. Não senti minhas mãos suando frio, minhas pernas não procuravam a saída mais próxima.
Mas conviver com tanta proximidade do Scott Meyer por todo um semestre era o meu pior pesadelo se tornando real. E, então, ele me viu. Surpresa em seus olhos e depois... Remorso? Eu vi certo?
Deu-me as costas e voltou a mexer em sua mala.
“Derick Campos...”, disse para si mesmo, “Realmente não esperava por isso.”
Afastei por tantos anos aquelas memórias como podia, mas... Ali, tão perto daquela pessoa, eu estava falhando.
Eu era uma criança novamente, voltando para a casa da minha prima. Tinha acabado de comprar uma bola nova para brincarmos. Essa tarefa sempre sobrava para mim. Se nossos pais soubessem que mandávamos tantas bolas, durante nossas brincadeiras, para a casa de nossos vizinhos, provavelmente já teriam dado fim à nossa diversão. Então, como o mais velho, eu ficava encarregado de sair às escondidas para repor nosso estoque. 
O meu único medo durante essas saídas era de ser pego por nossos pais. Eu nunca fui bom em mentir, provavelmente, por isso eu tenha desistido de tentar bem mais cedo do que o que precisaria para salvar a minha pele. Como eu poderia imaginar que ser pego por meus pais não resumia todos os perigos e que mentir não me salvaria nem mesmo se eu fosse bom nisso...
A velha lojinha era bem perto da casa de Sally. Ficava a uns dois quarteirões, virando à esquerda. Antes que eu pudesse virar na esquina e retornar à brincadeira, tropecei em algo e caí. Sequer me preocupei no que tinha tropeçado ou na dor que a queda provocou, fiquei desesperado ao ver a bola correndo para o meio da rua e levantei-me apressado para pegá-la de volta. Mas alguém a pegou primeiro. 
Aquele garoto cujo nome ao ser mencionado fazia a minha prima chorar e que podia deixar transparente o ódio ardendo nos olhos do Jack. Fiquei congelado na calçado, observando o Scott rasgar a bola, depois olhar para mim.
“Ah, desculpa... Era sua? Se eu soubesse não teria estourado. Vem comigo... Lá em casa eu tenho um monte. Você pode pegar quantas quiser.”
Sim, eu deveria ter ouvindo meus instintos gritando. Todos os músculos do meu corpo me diziam que eu não deveria estar entrando na casa daquele menino, mas mesmo assim eu fui até o seu quarto...
Ele me fez vestir roupas femininas e tirou fotos.
“Agora, se você não quiser que todos vejam essas fotos, vai fazer tudo o que eu quiser... Não faz essa cara, porque sei que gostou de se vestir assim. Combina com você. Vai ser muito divertido”, com essas palavras ele deu início aos meus pesadelos.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

7- Matthias Borbonius uma vez escreveu...

"Todas as coisas se transformam, nós também nos transformamos com elas".
“É, mas agora não adianta lamentar também. Só cuidado pra não acabar machucando as pessoas que são tão importantes pra você.”
A conversa acabou assim. Depois de uns quinze minutos Sally se despediu e saiu. Yasmin se deitou ao meu lado na cama e tive a sensação de estar sendo observado. Abri meus olhos.
“Te acordei?”
“Não estava conseguindo dormir mesmo...”
“Vai dormir aqui hoje?”
“Não trouxe meu uniforme. Tenho que voltar em casa pra buscar.”
“Então vai logo, antes que fique tarde.”
“Quer ir comigo? Podemos ir a algum lugar depois...”
“Não hoje...” se aproximou de mim sorrindo e me deu um beijo rápido antes de pular pra fora da cama.
“Vai pra onde?”
“Vou pedir comida pra gente e você vai logo pra sua casa pegar suas coisas.”
Quando cheguei em casa estavam todos trancados em seus quartos. Peguei o que precisava e voltei para a Yasmin.
O dia seguinte, segunda-feira (02/08/2010), era o nosso primeiro dia de aula do segundo semestre.
Era comum as repentinas e constantes mudanças no Colégio Elite. Apesar de se esperar uma organização exemplar, pela fortuna que eram as mensalidades, era tudo uma verdadeira bagunça. O que ninguém esperava era que a nova diretora do colégio fosse ir além do rigor com uniformes e horários como estava desde a saída do antigo diretor.
A princípio, enquanto passava pelo portão da escola de mãos dadas com a Yasmin, ao ver as mudanças aparentes na estrutura do colégio imaginei que fosse mais uma desnecessária, talvez para justificar o valor crescente das mensalidades, mas não poderia estar mais enganado.
“Por favor, vão para uma das filas que estão se formando no pátio, para que os monitores os informem para que sala devem seguir. Assim que forem informados, vão para a sala indicada, onde novas informações serão dadas.” a voz da diretora Cassandra era ouvida por todo o colégio.
“Nada de papéis pregados nas paredes esse ano? Uma boa notícia, finalmente” Yasmin.
Acompanhei a minha namorada até a sala dois e depois fui para a sala cinco.
Apenas uma minoria dos alunos já estava na sala, ao julgar pelas carteiras vazias. Eu reconhecia todos os rostos presentes e entre eles estava a Beatriz acenando para mim.
“Vem, Deri! Aqui do meu lado tem um lugar vazio.”
O pouco que conhecia a respeito da Beatriz foi devido à aproximação que os trabalhos em grupo proporcionavam. Ela tinha completado dezesseis anos naquele ano. Lembro da sua expressão curiosa quando soube que eu era irmão da Talita e do Ricardo e mais empolgada ainda ficou ao saber que eu escrevia algumas das canções da banda.
Beatriz era apaixonada pela banda (suas palavras), disse que nunca teve muito interesse em rock até ouvir a Talita cantar “Alucinação”*. Disse que essa música mudou a sua vida, de uma forma exagerada, contou-me que terminou com seu namorado logo depois de ouvi-la, que essa música abriu seus olhos.

*http://sosfallenangels.blogspot.com/2010/07/alucinacao.html

Ela era tão pequena e meiga que, às vezes, era difícil não vê-la como uma criança. E logo essa menininha deixava a Yasmin cega de ciúmes. Só o meu amor mesmo...
“Não acredito que vamos continuar na mesma turma. Que bom, Deri!”
Assim que todas as carteiras foram ocupadas, o monitor que estava na sala se pronunciou nos desejando um bom dia e mexeu em uns papéis sobre a sua mesa.
“Meu nome é Marcelo, sou monitor de francês. Como sabem, o Colégio Elite mudou recentemente de direção, tendo como nova diretora a Sra. Cassandra. Muitas mudanças foram feitas não somente no que os olhos de vocês puderam observar até agora, como também em todo o restante. Esses notebooks em suas mesas serão seus auxiliares durante a maioria das aulas que tiverem aqui. Cada um de vocês receberá um pendrive para armazenarem seus materiais pessoais de estudo; aconselho que cuidem com muito zelo por ser pequeno e frágil. Antes era opcional usar ou não o dormitório do colégio, pois bem, agora não é mais uma questão de escolha. Desde que estudam aqui, todos passarão as suas noites em seus dormitórios.”, um burburinho começou, “Peço a compreensão e silêncio, por favor. Seus pais já estavam cientes, logicamente, mas pelo que parece não repassaram as informações à vocês, talvez salvo por um ou outro. Hoje vocês não terão aula e amanhã igualmente, esse será o tempo que terão para se acomodarem em seus quartos aqui no Elite. Vocês poderão sair do colégio nos finais de semana se estiverem em dia com seus deveres como alunos e apenas com autorização de seus responsáveis. De sete horas da manhã às seis horas da tarde vocês estarão estudando, tendo pausas para descanso e refeições entre isso. Depois das seis vocês estarão livres para fazerem o que bem quiserem, não indo contra nenhuma das regras da escola, lógico, até às nove e meia da noite, com meia hora de tolerância, que é quando todos vocês devem estar em seus quartos. Os clubes que antes eram dirigidos por vocês mesmos, praticamente do que quisessem, também foi alterado. Foi feita uma lista onde vocês têm toda essa semana para decidirem em qual desejam participar. Vocês terão um professor especialmente para dar aulas a vocês do que tiverem escolhido. E podem escolher quantos clubes quiserem e puderem. Para jornal, banda e qualquer outra atividade similar, que não esteja na lista de clubes, vocês poderão continuar exercitando, mas apenas em seus horários livres e para os exemplos que citei e outros extravagantes será necessária a autorização da diretoria primeiramente. A cantina ficará aberta das seis horas às vinte uma. Acho que já disse tudo o que era mais relevante no momento. Agora vou falar o nome de cada um de vocês, peço que levantem a mão ao serem chamados para que eu entregue uma pasta contendo todas as informações de que precisarão juntamente com o pendrive. Depois vocês podem sair. Se tiverem qualquer dúvida podem me procurar ou a outro monitor que estaremos no espaço escolar, disponíveis para tirar suas dúvidas.”.
Fiquei na turma 3A. Meu quarto era o M16N, mas não estaria sozinho, mais um aluno dividiria o quarto comigo; fiquei imaginando quem poderia ser.
Apesar de contente com a melhora na escola, não esperava o mesmo contentamento do restante dos meus amigos. Yasmin iria amar, disso eu tinha certeza. Mariana também. Sally com certeza odiaria. O pessoal da banda também não deveria ficar grato com isso.
Enquanto saía da sala, uma sensação desagradável de que mais mudanças estavam para acontecer ficava mais intensa. Desejei estar errado.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

6- Horácio uma vez escreveu...

“Quase todos somos insensatos”.
“Começou, termina”.
“É que... Às vezes, nós ficamos. Essa regra não adiantou de nada. É só enfeite. Eu queria que isso parasse, mas não consigo...”.
Sally não conseguia mais falar, imagens não paravam de surgir em sua mente e eram tantas perguntas...
“Vocês acham que sou tão incapaz assim de me apaixonar como vivo dizendo? Bem queria... É verdade que não tenho paciência com relacionamentos. Gosto de não me comprometer com ninguém, mas... O Jack...”, suspirou, “Sei que ele não gosta de mim desse jeito, mas mesmo assim é carinhoso quando estamos à sos.”, um sorriso floresceu, ela parecia estar se lembrando desses momentos, “É tão bom quando ele começa a falar de seus sonhos, sabe? Me deixa com mais vontade ainda de cantar. Ele fica falando de como vai ser quando formos famosos. Ele é tão fofo...”, seu sorriso morreu, de repente, “Mas agora sou sempre eu que vou atrás dele e ele tem evitado ficar sozinho comigo. Eu quero que isso acabe, Sally, mas quando vejo já estou procurando por ele e ainda fico triste por estar tudo acabando... Como isso é possível?”
Sally estava com o coração apertado por diversas razões, mesmo que algumas ela não conhecesse.
“Acho que você deveria dizer a ele o que sente. Jack pode ser muito inteligente, mas não é adivinho, Talita”.
“Eu acabei fazendo uma música hoje...”.
“Me deixa ver...”.
Sally leu.
“Cante. Cante isso hoje. Ele vai entender e você não vai precisar dizer as palavras cara a cara com ele”.
“Não acho que está boa...”.
“Só cante, Talita. Assim, ou vocês ficam logo juntos ou se separam de vez. Não quero que sofra e você merece muito mais do que isso que está tendo agora, prima. Seja qual for o resultado, vai ser melhor assim. Jack precisa saber disso... Sei que ele não agiria como tem feito se soubesse.”
“Então vou fazer isso”.
De repente a Sally começou a chorar, trazendo-me para o presente.
“Não pensem mal de mim por estar contando tudo isso a vocês, por favor... Sei que é muito egoísmo, mas... O que eu não conto pra vocês, também...”, Sally tentava se desculpar, “Eu não contei tudo isso pro pessoal. Eu omiti a maior parte, as que não precisavam ser ditas”.
“Não estamos pensando mal de você, Sally, acho que posso dizer por todos”, Mariana.
“Claro que não estamos... Só... Nem sei o que pensar.”, era muita informação.
“Mas o Ricardo tem razão, Ly. É melhor não se meter. Isso é algo que só cabe aos dois.”, Yasmin.
“É... Vocês têm razão. Mari, agora você faz aquele bolo?”, Sally.
“Ly... Eu tenho que ir. Só vim, porque estava muito curiosa, mas nem deveria ter vindo. Não tenho muito tempo pra passar com meus pais... Amanhã eu levo um bolo só pra você na escola, ok?”, M ariana.
Sally fez um som com a boca, “Melhor que nada...”.
“E se reclamar nem isso”.
Mariana se despediu.
Achei melhor deixar as duas amigas sozinhas e subi para o quarto com desculpa de estar com muito sono. Não demorou e a Yasmin também subiu para usar o computador com a Sally.
“Você nem pra trazer o seu notebook com você, eheim, doida! Agora vai esperar eu ver meu orkut primeiro.”, Yasmin.
“Tudo bem... Min...”.
“O que foi?”.
“Com você eu posso falar o que sinto mais abertamente...”.
Yasmin esperou.
“Estou me sentindo tão traída. Por que eles me esconderam isso? E como eu não vi nada?”.
“Sally, você não fez o mesmo? Acho que agora entende como nos sentimos”.
Houve um curto silêncio.
“É... Acho que entendo”, suspirou, “É até difícil de acreditar. Queria que a minha prima estivesse mentindo, sabe? Quer dizer, o que eu devo pensar de tudo isso? O Jack é tão sério, Min... Ele não é desse tipo... Ele não estaria com a minha prima por estar. Eu sei disso. Eu nunca vi o Jack interessado em garota alguma durante todos esses anos. Agora quando penso, isso deve ter uma explicação bem simples mesmo, tanto que não vi. Por isso ele ficou tão radiante quando soube que meus primos voltariam a morar aqui no Brasil. Por isso...” suspirou novamente,” Nossa! É como se tudo ficasse tão claro. Como eu não pude ver nada disso antes? Bem na minha cara! Até o seu acesso de raiva agora só pode indicar isso... Yasmin, ele também é apaixonado pela Talita. E minha prima pensando que só ela é...”.
“Eu sempre achei que ele fosse apaixonado por você”.
Sally revirou os olhos.
“Acho que agora você pode ver que isso nunca foi verdade. Afinal, ele não teria se envolvido com a Talita se o que queria era estar comigo. Vou conversar com ele. Entender o que o levou a manter isso em segredo. Já até imagino ele com sua conversa boba de que não é bom e não sei o que. É a sua desculpa pra tudo”.
“Não sente ciúmes, Ly? Você até hoje morre de ciúmes de mim com o Derick...”
“Por que você tinha que me lembrar disso, Yasmin?! Aff! Me dá vontade de chorar... Droga não consigo nem me controlar.”, Sally chorava.
“Só acho essa história mal contada. Você age sem pensar e acho que deveria primeiro saber da história pelo Jack também, se quer fazer alguma coisa. O melhor mesmo seria não se meter. Não quer me ouvir...”.
“Não posso ficar sem fazer nada, Yasmin. Eles são importantes demais pra mim. Como vou deitar minha cabeça pra dormir com eles desse jeito?”.
“Você fez isso até hoje, Sally. Eles não vão ignorar um ao outro pra sempre, duvido que vão deixar a banda por causa de uma briguinha. Você foi se meter e olha o que já aconteceu”.
“Como assim?”.
“Não foi você que falou pra Talita cantar? Por causa disso teve que contar algo tão íntimo dela pra gente e explicar pra mais outras tantas pessoas o ocorrido. Sei que você só queria ajudar, mas você precisa entender que às vezes a melhor ajuda é não ajudar. A sua atitude pode ter piorado em muito as coisas”.
Sally emudeceu.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

5- George Bernard Shaw uma vez escreveu...

"Usamos os espelhos para ver o rosto e a arte para ver a alma”.
“Só se você fizer o bolo depois...”, Sally insistiu.
“Meu Deus! Eu faço esse bendito bolo depois, Sally! Vai contar logo, não? Então já vou.”, Mariana ameaçou levantar.
“Conta logo, Sally...”, Yasmin.
“Então...”, Sally começou a contar e a cena se formou na minha mente.
Sally chamou a Talita do lado de fora do quarto.
“Sally?!”.
“Sou eu, prima... Abre isso, anda...”, pediu carinhosamente.
Minha irmã abriu a porta. Sally passou rapidamente os olhos por ela, procurando ver o seu estado e a abraçou como uma mãe.
“Tali, você me deixou preocupada. Na verdade, estão todos preocupados, né. O que aconteceu, prima?”.
“Claro... O Jack deve estar preocupadíssimo comigo.”, irônica.
“Sim, ele está. Ele só não sabe como demonstrar isso direito... Acha que você está sendo infantil.”.
“Ah! Eu infantil? A criança é ele! Sei que você veio pedir que eu cante hoje, prima, mas não posso assim. Não posso ir cantar com a banda estando tão irritada com o baixista. Desculpa.”.
“O que aconteceu, Talita?”.
Talita a olhou hesitante.
“Não posso fazer muita coisa sem saber o que te deixou assim...”, Sally incentivou.
“Eu já estava pronta e fui ver como os meninos estavam. Caio e o Vinícius já estavam na sala nos esperando. O Derick tinha acabado de sair. O Ricardo estava terminando de se arrumar. Você estava na beira da piscina falando no celular, toda desarrumada. Encontrei o Jack na cama, dedilhando no baixo ‘Take Me Away – Lifehouse’. Ele não estava vestido pra festa, Sally! E nem íamos tocar aquela música hoje!”.
“Jack estava assim? Logo ele... Que estranho...”.
“Isso não foi o pior... Perguntei se ele tinha fumado, porque já estava na nossa hora de sair e ele ainda estava daquele jeito. Quem disse que ele me deu atenção? Perguntou se eu sabia que você ainda estava lá fora. Eu tinha acabado de ver que sim, mas disse irritada que estava me preocupando com coisas mais importantes que era o que ele deveria fazer também.”
“Eu estava falando com o meu pai...”
“Aí, ele voltou a tocar, como se eu não tivesse dito nada. Falei que ele tinha que se arrumar logo e ele continuou a me ignorar. Aí eu...”, hesitou.
“Fez o que?”.
“Eu estava nervosa. Sabe que me preocupo com você, poxa.  Só que ele...”.
“O que tem, Tali?”.
“Gritei com ele. Falei pra ele te esquecer. Que deveria estar se preocupado com o compromisso que ele tinha com a banda. Que você não estava nem aí pra ele. Que você estava falando com o Raffael pelo celular, preferindo ser amante a se arrumar pra assisti-lo tocar. Pra ele se tocar. Ele me fulminou com os olhos e voltou a tocar. Não me disse uma palavra.”
Sally emudeceu. Estava pasma com as palavras da prima por quem zelava com tanto amor. Nada daquilo era uma verdade, mas doeu ver o que a prima pensava dela. Todas as vezes ela se impressionava... 
“Prima...”.
“Eu não sou amante... Não gosto do que sinto por ele, mas não passa disso...”.
“Não, Sally... Eu sei... Falei com raiva. Queria que ele se arrumasse logo. Agora ele está com raiva de mim... Todo mundo da banda. E até você.”
“Não estou com raiva de você, Talita. Só não esperava ouvir isso... Mas deixa isso pra lá. Eu vim por outro motivo. Ficou com vergonha e por isso se trancou no quarto, sem querer cantar?”.
“Não... Eu não saí do quarto dele assim. O olhar que ele me deu, me deixou com medo, mas mesmo assim me sentei perto dele na cama. Comecei falando... Que havia mentido. Você se lembra quando éramos crianças e vocês nunca tinham dado um beijo e eu enchi a boca dizendo que já tinha dado muitos?”.
“Lembro...”
“Então... Eu menti.”
“Bem, eu já suspeitava, porque você exagerava nas histórias... Mas você era doida mesmo, então...”
“Não. Eu menti tudo. Eu também era BV.”
Sally arregalou os olhos.
“Naquele tempo eu cheguei no Jack, com história de ensiná-lo. Falei que ele precisava treinar antes de dar o primeiro ‘beijo oficial’ com alguém que fosse especial pra ele. Disse que seria bom treinar com uma garota experiente como eu e que ele não iria precisar ter vergonha, porque éramos praticamente primos.”
“Ah... Isso. Foi por causa disso que insisti pra beijar o Ricardo... Queria treinar também. Cada ideia!”.
“Então, quando o Ricardo aceitou e ‘treinou’ com você o Jack acabou aceitando ‘treinar’ comigo também.”
“Você é louca... Tinha tanta vergonha de não saber beijar assim, Tali?”
“Tinha... Mas não foi por isso. Eu queria que o meu primeiro beijo fosse com ele e fiquei tão empolgada, porque o seu primeiro beijo também seria comigo.”
“Você gostava dele?”
“Desde sempre...”
Sally levou um tempo para entender o que aquelas palavras queriam dizer.
“Você ainda...”, por alguma razão evitou completar a frase.
“Sim. Contei pra ele essa história do beijo e saí ainda sem ouvir sua voz. Não sei nem por quê fui falar isso pra ele. Acho que só piorei. Agora ele também vai me odiar por ter mentido.”
“Você disse pra ele... Dos seus... Sentimentos?”.
“Claro que não.”
“Não entendo...”.
“Sally, acha que eu coloquei aquela regra de não poder ter envolvimento romântico entre os integrantes da banda, por quê? Pra me impedir de ser estúpida o suficiente. Só que...”
“Fala...”
“Ele me fez prometer não contar nada.”

quinta-feira, 14 de abril de 2011

4- Don Ward uma vez escreveu...

"Lembre-se de que a resposta de ontem pode não ter nada a ver com o problema de hoje".
“Vamos aproveitar essa agitação e sair de fininho?”, Yasmin.
Sorri e segurei uma de suas mãos. Como eu poderia conscientemente negar qualquer pedido que me fosse feito por ela?
Passamos a noite juntos em sua casa; eu praticamente morava lá.
No domingo, já à tarde, Yasmin voltou ao meu lado na sala discando seu celular.
“Vou chamar a Sally para nos contar a história de ontem.”, comentou comigo logo antes da sua ligação ser atendida.
Yasmin era muito curiosa, mas ela não seria tão direta em satisfazer a sua curiosidade se não fosse matá-la através de sua amiga de infância.
Sally falava alto e pude ouvir a conversa.
“Você é uma safada! Pensa que não sei o porquê desse convite repentino? Aff! O pior é que eu adoraria recusar só pra te irritar, mas não quero ficar hoje aqui. Estou ficando doida de vez já! Já chamou a Mari?”.
“Não. Hoje é domingo, esqueceu que ela passa os domingos com a família?”.
“Sei, sei, mas já deu pra almoçarem juntos à essa hora. Faz ela ir também, porque depois ela vai querer saber e não tenho paciência pra contar de novo não! Já perdi as contas de quantas vezes já repeti essa história. Cruz credo!”.
“Eu conto pra ela, então, amanhã. Não tem problema.”
“Não! Claro que tem problema. Não quero que vire fofoca na escola isso.”
“Já deve ter virado, né.”
Sally ficou muda por um segundo.
“Por que está dizendo isso?”.
“Ué. Você que disse que já contou várias vezes essa história... Doida.”.
“Aff, Yasmin! Até fiquei preocupada por um instante. Não contei pro mundo todo. Contei pro Jack, depois o Ricardo, o Caio e o Vinícius... E Camila. Eles não vão falar disso com ninguém, me prometeram. Nem queria ter contado pra eles, mas já estavam fazendo um alarde doido, achei melhor falar, pra se acalmarem. Me sinto mal falando assim de algo que a Tali me confidenciou, não que tenha me pedido segredo, mas mesmo assim, né... Só que não queria que acabasse se espalhando mais e distorcido, entende? Confio em vocês, sei que vão ser discretos quanto a isso. Até o cabeça oca do Vinícius tenho certeza de que não vai mais tocar no assunto. Bem... Só insiste pra ela ir, ok? Sendo você a chamar, ela só vai recusar se realmente não puder ir. Vou pegar minha bolsa e já estou chegando.”.
“Beijos.”
Desligou o celular e já discou para a Mariana. Não precisou insistir para que ela aceitasse seu convite, Mariana aceitou de prontidão.
Fiquei surpreso ao ver que realmente sem demora a Sally estava passando pela porta da sala.
“Oi, gente! E aí, a Mari vem?”.
“Oi, prima!”.
“Oi... Ela deve levar mais tempo, porque sua família está hospedada no centro.”
Sally colocou a sua bolsa na mesinha de centro e se jogou de qualquer jeito na poltrona.
“Talita passou o dia trancada no quarto, aparentemente, dormindo. Berrou algumas vezes, quando socamos a sua porta, pra deixarmos ela descansar. Jack saiu cedo, falou pro Ricardo que tinha umas coisas para resolver, mas não o vi ontem depois da festa nem hoje. Não pude conversar com ele ainda. Quero bater nos dois. Ridículos. Ficam agindo como se nada tivesse acontecido, mas está na cara que estão tentando evitar a situação. Fico preocupada com os dois. E sem saber onde o Jack está...”, suspirou, “E o Ricardo está me tirando do sério... Aff! Ele é tão simples que seja a irritar em horas como essas. Ontem, quando contei, ficou surpreso, mas não deu importância. Disse que isso é assunto dos dois, que eles vão se resolver do jeito deles. Sim, eu sei que é verdade, mas como ele consegue achar tão natural? Brigou hoje comigo quando entrei no quarto dele pedindo ajuda, desabafando... Ele acha estranho que eu fique tão preocupada. Estranho é ele não ficar! Já estava enlouquecendo lá em casa. Não consigo parar de pensar em tudo isso. E agora não consigo nem parar de falar. Pronto. Parei.”
Eu e a Yasmin não deveríamos ter rido, porque realmente não cabia, mas a Sally daquele fez isso inevitável.
“Ótimo! Apoio de amigos é sempre um conforto.”
Sally deixou a porta aberta, então Mariana entrou sem que percebêssemos.
“Já começaram a farra sem mim?”, comentou ao ver a cena.
Sally se desdobrou na poltrona e abraçou a sua amiga pela cintura, “Mari, você é a única séria aqui que vai me dar razão.”
“Está doida, menina!”, fingiu se importar se desvencilhando do abraço da amiga, “Ou eu sou séria ou te dou razão, as duas coisas não combinam. E isso são modos na casa dos outros?”.
“Ah, como se eu me importasse com modos em casa de amigos/família. Rá! Nem estou fazendo nada demais... Só estou deitada.”, sua consciência pareceu pesar de repente, “Você se incomoda, Min?”.
“Claro que não, Ly. Só não abusa.”, riu.
“Tsc. Por isso essa criança é assim, ninguém dá limites.”, provocou.
“Ah, sua chata! Senta logo e para de reclamar. Ah, não!! Melhor do que isso, Marizinha fofa!”.
“Golpe vindo...”, Yasmin disse em meio a risos com a implicância entre as duas.
“Não atrapalha, Min. Então, como dizia...”, forçou um tom meigo, “ Marizinha, faz um daqueles bolinhos deliciosos pra gente que só você sabe fazer com suas mãos de fada. Já disse que te amo hoje, luz da minha vida?”.
Eu e a Yasmin só sabíamos rir diante de toda aquela cena.
“Já disse pra você não esquecer de tomar sua medicação antes de sair de casa, Sally, mas você não me ouve.”, Mariana.
Sally saiu do sofá e sentou-se no chão agarrando as pernas da Mariana, “Please. Estou necessitada de um bolo feito por você.”
“Sai do chão sua doida! Meu Deus!”, Mariana ficou um pouco embaraçada diante de uma atitude tão comum à minha prima.
“Então faz, please...”.
“Não recebo pra cozinhar pra você, Sally.”, disse tentando se desvencilhar da amiga.
“Poxa... Um carinho seu precisa ser pago?”.
“Não vou fazer nada com você me agarrando.”
Sally voltou para a poltrona num salto, “Agora faz?”
“Não, Sally! Vou é te bater se continuar me atazanando! Você não está na sua casa. Nem perguntou se a Yasmin deixa isso. E mesmo que ela deixasse, eu não vou fazer. Para de enrolar e conta logo o que queremos saber. Desembucha, anda.”.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

3- Saint-Exupèry uma vez escreveu...

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.

Caro amigo (Talita Campos)
Caro amigo,
Como isso foi acontecer?
O que houve que fez meu coração se derreter?
Tento me convencer que não é nada
Que estou errada
Mas todo instante
Tudo que quero
É você
Sei...
Estou tentando me convencer, não vê?
Essa história de suspirar ao te ver
Não faz sentido
É problemático
Mas nada disso muda o que eu sinto
Ah!
Estou tentando me parar
Mas com essa falta de ar
Todo o resto fica impossível
Como seria
Se ela não fosse o seu mundo?
O seu tudo...
A sua vida...
Talvez,
Você veria
Minhas mãos trêmulas
Quando canto essa canção

Tudo fez sentido. Não que fosse fazer sentido para todos os que a ouviram, mas para aqueles que presenciaram o último episódio era óbvio demais. E ela realmente não estava tentando esconder nada daquilo.
Isso me levou para uma recordação.
Éramos crianças e estávamos passando uns dias na casa da Sally, quando a campanhia tocou. Não havia nenhum adulto por perto, então fui atender a porta. Deparei-me pela primeira vez com o Jack.
“A Sally tá aí?!”, pareceu irritado ao me ver.
“Vou chamar... Qual o seu nome?”.
Sally gritou da sala, “Quem é, Derick? Vem logo...Está cansando a minha beleza. Quero brincar!”.
“Deixa pra lá.”, e saiu com a mesma cara de poucos amigos.
Fechei a porta e voltei para brincar.
“Quem era?”, Sally.
“Um menino. Ele estava nervoso e foi embora.”.
“Meleca! Com o cabelo preto todo bagunçado?”.
“É...”.
“Droga! Ele é assim mesmo. Vou ver se consigo alcançá-lo.”, saiu correndo pela porta.
Eu, a Talita e o Ricardo a seguimos até a porta, curiosos.
Sally o encontrou ainda na calçada da nossa casa.
“A Sally é doida e só arruma amigo doido!”, Talita.
“Esse deve ser o Jack que ela tanto fala... Vou chamar ele pra brincar com a gente.”, e o meu irmão foi até eles.
“O Jack?! Ah! Então é ele...”, um brilho curioso iluminou seus olhos.
Ela passou a tarde toda fazendo de tudo para ser amiga dele, mas ela não foi a única.
Eu deveria ter percebido antes. Mas sempre julguei que o seu interesse pelo Jack fosse o mesmo que o nosso. Todos os momentos que passamos juntos passaram em imagens rápidas pela minha mente, enquanto eu interpretava tudo de maneira diferente... Cada gesto, cada olhar.
“Tudo certo, meninos?”, Talita perguntou à banda, “Ótimo! Então, meus bagunceiros preferidos, vamos fazer barulho!”, começou a cantar novamente, já sem o tom triste de antes.

Eixo (Derick Campos)
Posso dizer e repetir
Por favor, entenda
Entre nós não existe diferença
Eu sei o que te faço sentir
Dominando seus desejos
Porque é exatamente assim
É exatamente assim
Que você me faz sentir
Se aproxime um pouco mais
Quero ocupar o mesmo espaço que você ocupa
Quero respirar o mesmo ar que passeia nos seus pulmões
Já não saber mais se é o meu ou o seu coração que bate tanto assim
Por favor, entenda
Entre nós não existe diferença
Eu sei o que te faço sentir
Dominando seus desejos
Porque é exatamente assim
É exatamente assim
Que você me faz sentir
É, você sabe que não me canso de repetir...
Porque não existe diferença...

“Ah, amor! Foi horrível toda a espera, mas... É simplesmente linda... Amei!”, Yasmin me abraçou contente.
Sua animação diante de gestos tão simples como aquele ainda me impressionava. Aquecia o meu coração o seu sorriso. Talvez por isso tenha sido tão fácil me esquecer do que estava acontecendo ao nosso redor.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

2- Jules Renard uma vez escreveu...

“Amigo é aquele que sempre adivinha quando se precisa dele.”
“Prontos estamos há um bom tempo. Mas tirar a Talita do quarto é que é o problema.”, Vinícius.
“Ahm? O que aconteceu”?, Camila.
“Ninguém sabe. A gente ia sair logo depois que o Bebezão saiu mas, quando fomos chamar a Loira, ela disse que não vai cantar hoje. O Ricardo esta lá na porta do quarto dela implorando pra que ela saia, mas...”, Vinícius.
“Desisto.”, Ricardo murmurou descendo as escadas, “Ela está mesmo irritada, não quer ir por nada. Disse pra gente se apresentar sem ela... Como se isso fosse possível.”.
“Por mim tudo bem assim.”, Jack.
“Jack!”, Ricardo parecia ofendido com o tom casual usado pelo Jack.
“Então já vou indo.”, Jack se levantou e passou pela porta.
“Ótimo! O que está acontecendo aqui, eheim?! Está tudo errado. Primeiro que Tali ama cantar mais do que tudo nessa vida, não faz sentido ela recusar se apresentar hoje só porque acordou de TPM. Segundo... Vocês dois aí sentados tão calmos demais! Alô! Isso quer dizer que nada de Fallen Angels hoje! Eu amo a Tali e não sei seus motivos, mas gente!! Aff! Não tiro a razão do Jay. Alguém tire ela desse quarto, pel’amor!”, Camila.
“Já tentamos! O Ricardo então... Se ela tem certeza disso, não podemos fazer nada. Também acho melhor irmos logo pro baile.”, Vinícius.
“É... Temos que avisar a todos que não vamos mais nos apresentar hoje.”, Caio.
“Eu vou ficar. Talvez a Tali precise de alguma coisa...”, Ricardo.
“Se é assim que vai ser... Eu levo vocês. Vamos, então.”, Camila disse nada contente.
Eu queria muito falar com a Talita, ajudar de alguma forma, mas ela não me daria atenção. Com toda a certeza me diria alguma grosseria e me mandaria embora. Se ela não deu créditos ao Ricardo, a mim é que não daria.
Voltamos para o salão, onde cada um tomou um rumo diferente, mas com as mesmas expressões entristecidas.
“Voltei...”, anunciei para a mesa onde estavam a Yasmin e a Mariana.
“Deri, o que aconteceu? Jack parecia irritado quando chegou... A Ly foi conversar com ele pra saber...”, Yasmin.
“Ah... Minha irmã não quer cantar hoje. Ninguém sabe o motivo. Todos estão chateados, claro, mas o Jack parece mais. Não sei o que aconteceu.”.
“Mas ela está bem?”, Mariana.
“Pra não querer cantar não deve estar nada bem. Pelo que falaram a Tali está muito nervosa.”.
“Então nada de Fallen Angels hoje...”, Yasmin lamentou.
“É.”.
Mais do que a banda tocar ou não, estava preocupado com a minha irmã. Pensei na única pessoa que teria paciência para falar com ela nesse estado de nervos e que poderia desarmar a Talita: Sally.
“Preciso falar com a Lily, coisa rápida... Acho que ela pode ajudar.”.
“A Sally?!”, Mariana surpresa.
“Vai lá, Bebê.”, Yasmin.
“Já volto.”.
Sally não estava muito distante de onde estávamos. Conversava com o Jack.
“Lily...”.
“Aconteceu mais alguma coisa, Derick?”.
“Não. Mas acho que se você for falar com ela, pode fazer com que ela mude de ideia.”.
“É o que eu disse pro Tê, mas ele me falou que só iria piorar...”.
“É melhor deixar a Talita sozinha e tocarmos mesmo sem ela.”, Jack.
“Para com isso. Não sei o que aconteceu entre vocês dois, Jack, mas você não me engana. Esse seu comportamento! Eu vou falar com a Talita sim. Você não vai me dizer o que aconteceu, mas ela vai. Bora, Derick.”.
Sally deu um passo apressado para ir atrás da Talita, mas o Jack a segurou com tanta força pelo pulso que a fez voltar seus passos. Minha prima o repreendeu com um olhar e esboçou falar, mas Jack tão logo a soltou se desculpando e saiu de perto de nós.
Minha prima voltou seu olhar para mim envergonhada, “Ele esteve bem o dia todo... Por que ele não quer que eu saiba o que aconteceu?... Não gosto nada disso. Você não precisa ir. É seu último Baile de Agosto, fique com a Yasmin.”.
“Tem certeza?”.
“Tenho. E... Derick...”.
“Pode falar.”.
“Não fala com ninguém nem mesmo com a Yasmin o que você viu aqui, por favor. Não sei nem o que você está pensando, mas o Jack não é assim, por isso mesmo estou preocupada. E quem ouvir sobre isso, pode interpretar mal.”.
“Eu sei, Sally. Fica tranqüila.”.
“Obrigada... Já vou indo. Até mais.”.
Estava curioso. Queria saber como seria essa conversa entre as duas, queria saber o que tinha acontecido. Mas esperaria a Sally me contar, se ela quisesse, claro.
Retornei para onde a minha Princesa estava.
Logo já eram mais de dez horas da noite e os que estiveram ansiosos pelos Fallen Angels já tinham perdido as esperanças de ouvi-los. Muitos alunos já tinham até mesmo deixado o salão. Foi assim que fomos surpreendidos ao ouvir a voz da minha irmã no microfone do palco.
“Vou me desculpar pela demora da única e melhor forma que posso. Enquanto os meninos sobem no palco e se arrumam, tenho uma canção pra vocês.”, Talita, “Fiz hoje à tarde e senti essa necessidade enorme de compartilhar com vocês, ninguém ouviu ainda, nem tive tempo pra trabalhar nela. Então espero que me dêem um desconto.”.
Talita escreveu duas ou três músicas em todos esses anos, ela não se dedicava a isso.
Pela primeira vez eu vi a Talita tímida em cima de um palco. No momento em que ela abria os lábios e deixava a sua doce voz enrouquecida se transformar numa canção eu me esquecia que havia qualquer outra coisa no mundo que amasse mais.
O meu coração estava batendo com força. Minha maior paixão, com certeza, era aquela voz. E a tristeza que ela transmitia em cada som doía no meu peito como se fosse minha... Não sei se era o mesmo com todos os que também estavam ouvindo, mas por suas expressões eu arriscaria dizer que sim. Era algo que precisava ser compartilhado com o mundo.
Não havia instrumento a acompanhando e ninguém no salão fazia um som sequer.
A letra da canção abriu os meus olhos para algo que eu já deveria ter notado antes. Senti um arrepio quando me dei conta de que não seria o único a ver essa verdade.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

1- Garth Brooks uma vez escreveu...

“Ser feliz não é conseguir o que deseja, é desejar o que já possuí.”.
Ela já estava do lado de fora de sua casa me aguardando. Dei uma volta no quarteirão, surgindo pelo lado oposto em que ela me esperava, propositalmente. Queria surpreendê-la e mais do que isso guardar o momento em que a garota mais incrível do mundo estava ansiosa pela chegada de um cara como eu.
Yasmin Campbell é o seu nome. Em breve vai completar dezessete anos de idade. Um metro e sessenta e cinco de altura. Com seus cabelos vermelhos presos, deixando apenas uma franja como moldura para seus lindos olhos castanhos. Vendo aquele vestido rosa agraciando seu corpo eu só conseguia imaginar o momento em que iria tirá-lo.
Não sei como ela fazia isso, mas notou a minha presença muito antes que eu pudesse me aproximar de fato. Veio correndo na minha direção com um sorriso aberto, gritando o meu nome... O nome do cara mais sortudo do mundo.
“Derick!”.
Abracei-a com cuidado, como se ela pudesse quebrar.
“Eu deveria me preocupar em não conseguir ficar longe de você nem por uma hora?”.
Ela selou meus lábios com os seus. Era assim que costumava fazer sempre que eu declarava o meu amor, isso ou o seu tímido sorriso.
“Vamos! Não vi ainda o salão decorado. E quero ver como as meninas estão. A Mari já deve estar lá, não quero que ela fique sozinha.”, Yasmin.
“O táxi já deve estar chegando.”.
“Você também parece ansioso.”.
“Os Fallen Angels vão se apresentar, sabe como eu fico... Não sei por que fico assim, afinal, não sou eu que vai subir no palco.”.
“Mas é como se fosse... Não precisa ficar nervoso, eles vão arrasar como sempre, Bebê.”.
O táxi chegou e durante o curto trajeto não trocamos mais palavras. Era assim que passávamos a maior parte do nosso tempo juntos.
“Imaginei algo mais bonito, mas não ficou nada mal assim também. Queria ter participado do grupo de decoração do baile desse ano...”, Yasmin comentou ao ver o salão, ela era meticulosa com coisas do gênero.
“Ali a Mari.”, apontei para a sua amiga que estava sentada sozinha.
“Sabia! Deve estar contando os segundos para ir embora... Vamos...”.
“Na verdade queria encontrar a banda, saber se precisam de alguma coisa... Depois me junto com vocês, pode ser?”.
“Claro, Bebê. Deseje boa sorte a eles por mim.”.
Dei um beijo no canto de seus lábios, “Te amo, Princesa.”.
“Também... Te amo...”, as palavras quase não saíram. Era sempre desse jeito em público. Eu não gostava, conhecia seus motivos... Seus medos. E toda vez que ela fazia isso me magoava, mesmo que não diminuísse o meu amor.
Eu odiava todo instante que passava longe dela. A sua ausência me incomodava muito, era impossível relaxar e difícil ficar bem.
A maioria dos alunos já circulava pelo salão. Faltavam cerca de dez minutos para o início oficial do Baile de Agosto.
“Sozinho, Deri?”, aquela voz quase infantil e mãos pequenas me pararam.
“Bia?! Oi... Tudo bem?”.
“Tudo e com você, Deri?”, Beatriz era da minha turma. Ela me lembrava muito a Melissa, não que eu tivesse contado isso a Yasmin... Ela já se irritava quando me via com a Beatriz ou qualquer outra sem saber disso. Esse ciúme era irracional, mas a Yasmin não pensava assim.
“Bem. Estou procurando o pessoal da banda, os viu por aí?”.
“Ainda não... Mas por que está sozinho? Aconteceu alguma coisa entre você e a Yasmin?”.
“Não, não. Ela está com uma amiga. Assim que eu encontrar o pessoal volto a ficar com ela.”.
“Ah! É estranho não ver vocês juntos se não for no horário de aula.”, sorriu, “Soube que uma das suas músicas que vai ser tocada hoje. Fiquei muito feliz.”.
“Obrigada, Bia. Vou voltar a procurar por eles... Depois a gente se fala, tá?!”.
“Claro, Deri. Mas... É... Eu posso procurar com você.”.
“Eu agradeço, mas não é necessário. Minha namorada teria vindo comigo...”.
“Entendo. Então boa sorte, Deri.”.
Logo atrás dela vi a Camila agitada com o celular na mão.
“Milinha...”.
“Deri! Como é bom te ver!”, me deu um abraço rápido.
“Aconteceu alguma coisa?”.
“Sabe da Tali e dos meninos?”.
“Já devem ter chegado. Quando fui buscar a Min eles já estavam todos prontos lá em casa.”.
“Bem, pois eles não chegaram até agora e não consigo falar com eles pelo celular. Estou preocupada! Eles deveriam estar aqui há meia hora. Alguma coisa aconteceu... Eu vou à sua casa ver se os encontro lá.”.
“Calma. Então eu vou com você. Só preciso avisar a Yasmin antes. Não demoro.”.
“Ótimo. Te espero lá fora.”.
A Sally já estava com a Mariana e a Yasmin.
“Voltei!”.
“Ninguém sentiu a sua falta, Derick, mete o pé.”, minha prima fazendo careta.
“É mentira, Bebê...”, Yasmin.
“Não vale! Não faz essa cara, priminho... Aff! Sua sorte é que você é fofo demais e que te amo absurdamente, senão eu te matava por roubar a minha amiga de mim. Se bem que eu poderia dizer o mesmo a respeito dela. É... Vocês se merecem e odeio vocês por isso.”.
“Senta, Derick.”, Mariana.
“Eu não vou ficar... Eu preciso voltar em casa primeiro. Estou com o celular, então, se precisarem de mim...”.
Dei um beijo estalado na testa da minha princesa e encontrei a Camila andando de um lado para o outro no portão principal do salão.
“Isso porque disse que não iria demorar...”, reclamou, “Tá, tá... Não precisa fazer essa cara. Vamos logo, meu carro está logo ali.”.
Chegamos. Abri a porta e encontramos o Jack, o Caio e o Vinícius sentados no sofá da sala. Estaria tudo bem se as suas expressões não fossem aquelas...
“Pensei que já estivessem todos prontos...”, Camila comentou, notando a ausência dos meus irmãos.